A Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos (CIVICOP) entregou, ontem, as ossadas de 30 vítimas, de um total de 37, resultantes de um ataque perpetrado pelas extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), na localidade de Indungo, na província da Huíla, em Setembro de 1977.


Na cerimónia, presidida pelo ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, foram entregues os restos mortais que se encontravam enterrados numa vala comum aos respectivos familiares.

Ao intervir, no acto que teve lugar na Universidade Mandume Ya Ndemufayo (UMN), João Ernesto dos Santos “Liberdade” sublinhou que “recordamos o trágico episódio registado no dia 4 de Setembro de 1977, em que foi posta à prova a determinação e a bravura dos habitantes da aldeia de Indungo, que num contexto de guerra civil pós-independência travaram um forte confronto com as tropas das ex-FALA, resultando na morte de mais de três dezenas de habitantes, incluindo mulheres e crianças”, disse.

As circunstâncias daquele momento, acentuou o ministro “Liberdade”, impuseram que as vítimas fossem sepultadas em valas comuns, “mas a cultura africana de que somos parte reserva um tratamento próprio aos mortos e um dever moral para os enterros condignos àqueles que nos deixam”.

Explicou que em memória dos que tombaram neste fatídico dia, um grupo de familiares e naturais da aldeia de Indungo endereçou uma petição à Comissão para Implementação do Programa de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) para o apoio institucional do Estado na localização e exumação dos restos mortais.

“Considerado o referido acto como uma forma de enxugar as lágrimas pelas amarguras vividas na altura, a petição foi atendida e as subcomissões da Comissão realizaram uma tarefa árdua de localização e exumação dos corpos, em que vários exames laboratoriais foram necessários para a devida confirmação”, realçou.

O ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria explicou ainda que os resultados permitiram identificar, com eficácia, os restos mortais que foram entregues, ontem, aos respectivos familiares. “O acto permite que as famílias fiquem com os ânimos mais tranquilos e os espíritos apaziguados, por terem a oportunidade de sepultar condignamente os seus entes queridos”, disse.

Considerou a cerimóniacomo um acto moral de realce, pois os entes queridos podem agora realizar óbitos que estejam em conformidade com os usos e costumes da ancestralidade.  “Urge reconhecer o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, por criar a CIVICOP, como plataforma para a implementação do plano de homenagem às vítimas dos conflitos e promoção da reconciliação nacional.

Para o ministro, está acção permite o perdão e paz de espírito, assim como enterros condignos que qualquer angolano merece, incluindo a entrega das certidões de óbito e outros enquadramentos legais decorrentes do acto.

João Ernesto dos Santos “Liberdade” considera a medida como um gesto de puro humanismo e sentido de Estado, que deve ser replicado para enaltecer a reconciliação e o perdão, sem quaisquer tipos de responsabilização dos seus autores morais ou instigadores.

“O país tem desenvolvido uma acção que não divide a sociedade, tão pouco reabre as feridas do passado. Por isso, reiteramos o apelo que se tem feito, que é hora de abraçar e perdoar cada angolano, e aqui a prioridade deve ser a construção da paz e do perdão, incluindo a construção de um novo rumo baseado na concórdia”, disse.

O ministro aproveitou a ocasião para enaltecer a colaboração das famílias das vítimas no processo de localização e recolha dos exames para certificação do grau de parentesco de cada defunto.

“As demais famílias que pretendam encontrar os restos mortais dos seus parentes falecidos em consequência do conflito passado, devem dirigir-se aos laboratórios centrais de criminalística para o efeito”, apelou.

Participaram na cerimónia o governador da Huíla, Nuno Mahapi Dala, o secretário de Estado para a Comunicação Social, Nuno Caldas, representantes de congregações religiosas, políticos e autoridades tradicionais.

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